PF vê indícios de homicídio na morte de turista em desabamento de igreja no Pelourinho
Corregedor diz que investigação é “complexa” e explica como equipamentos especializados serão usados
Um dia após o desabamento de parte do teto da Igreja de São Francisco de Assis, no Pelourinho, a Polícia Federal (PF) não descarta responsabilização criminal pela morte de Giulia Panchoni Righetto. A turista de 26 anos, natural de São Paulo, morreu após ser atingida pelos escombros.
A informação foi confirmada por Maurício Salim, corregedor da Polícia Federal que atua na investigação. Segundo ele, a apuração será complexa, especialmente por se tratar de um imóvel tombado.
“A investigação tem como norte que, possivelmente, sempre em tese, pode ter acontecido um homicídio, provavelmente culposo, uma lesão, provavelmente culposa, e os danos. Mas não há nenhuma conclusão ainda nesse sentido”, explicou. Uma vistoria seria realizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), nesta quinta-feira (6), para avaliar as condições estruturais do imóvel.
“Quando os fatos forem elucidados, com calma, faremos a classificação jurídica adequada e os encaminhamentos adequados na esfera criminal, civil e administrativa. Por ser um bem tombado, provavelmente vai exigir uma série de providências”, completou Maurício Salim, em entrevista à imprensa um dia após o episódio.
Ele explicou que hoje cinco peritos de Salvador começaram a fazer os exames e à tarde cinco profissionais de Brasília chegarão com equipamentos especializados para continuar com o trabalho de escaneamento da área e exames da estrutura. As vítimas que sobreviveram também já estão sendo ouvidas pela Polícia Civil e devem ser ouvidas pela PF.
Entre os equipamentos que serão trazidos está um scanner 3D, que será usado para fazer registro de toda área. “Vamos gravar essas imagens, para que a gente possa revisitar o local do crime para fazer exames complementares, se necessário”, detalhou.
O corregedor diz que é preciso fazer tudo com cuidado. “Se tratando de imóvel tombado, a repercussão vai além da fase criminal. Sabemos que haverá repercussões cível e administrativa. A investigação tem que ser muito bem preparada porque dará ensejo a uma série de ações”.
Inicialmente, as polícias Civil e Federal trabalham juntas e no futuro será analisado se as investigações devem ser desmembradas. “É uma estrutura tombada, a perícia tem que ser feita aos poucos, por conta da segurança, os materiais não podem ser descartáveis. Não estamos tratando de entulhos, são bens do patrimônio histórico nacional. Nada pode ser retirado. Vai precisar ter toda triagem para que se faça a restauração posterior”, detalha.
O corpo de Giulia Panchoni Righetto está no Instituto Médico Legal (IML) de Salvador, que ainda não divulgou informações sobre a liberação para a família. Ela visitava a igreja com três amigos. Um deles reconheceu a vítima.
Natural de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, Giulia fez o ensino básico no tradicional Colégio Marista de Ribeirão Preto e, depois, se mudou para São Paulo, onde se formou em Publicidade e Propaganda na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
Problema antigo
Em setembro de 2021, o Iphan foi condenado a realizar obras de recuperação, conservação e manutenção da Igreja e Convento de São Francisco, no Centro Histórico de Salvador. A autarquia federal se tornou ré de ação após a Comunidade Franciscana da Bahia, dona do imóvel, alegar não ter recursos para realizar obras emergenciais.
A decisão, a qual o CORREIO teve acesso, aponta que perícia realizada em 2018 apontou problemas no “pavimento superior, na clausura, no depósito, na biblioteca, no elevador, na varanda superior do imóvel, nas peças e madeiras e elétrica com fiação aparente, na cobertura, na varanda do pavimento superior, na rede pluvial, na fachada e na estrutura do imóvel”.
As observações de turistas brasileiros e estrangeiros sobre problemas estruturais da Igreja de São Francisco de Assis, no Pelourinho, eram constantes antes do desabamento.
Guias de turismo que atuam na região consideram o episódio uma “tragédia anunciada”. Os freis que vivem no convento anexo à igreja, no entanto, dizem que não viam risco iminente de desabamento.
Desabamento
O desabamento aconteceu entre 14h30 e 15h, deixando uma pessoa morta e outras cinco feridas. A igreja era aberta para visitação e interesse de muitos turistas. A entrada custa R$ 10. Segundo guias que estavam no local, no momento do acidente, houve um estrondo que assustou quem passava pela região.
Ao todo, seis pessoas foram feridas. Uma delas, a turista paulista Giulia Panchoni Righetto, de 26 anos, morreu no local. A informação inicial é a de que Giulia estava na igreja com três amigos e foi um deles que acabou reconhecendo o corpo da vítima.
Os outros cinco feridos foram socorridos por equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e pelo Corpo de Bombeiros, sendo encaminhados para uma unidade de saúde local.
Conforme informado pela Polícia Civil, de acordo com as autoridades, eles sofreram apenas ferimentos leves e não correm risco de morte. O teto atingiu quem estava na área dos bancos, bem no centro do templo.
Fonte: Correio 24horas