Governadores querem reunião com Bolsonaro
Os governadores de 24 estados e do Distrito Federal realizaram uma reunião na manhã desta segunda-feira, 23, em meio a uma atmosfera de tensão provocada pela agenda de ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) às instituições democráticas brasileiras, particularmente o Judiciário.
Os mandatários decidiram atuar conjuntamente para tentar harmonizar a relação entre os Poderes, pedindo inclusive uma reunião com Bolsonaro na próxima semana. O grupo informou que prepara uma carta para os chefes dos Poderes, como da Câmara dos Deputados, do Senado e do Supremo Tribunal Federal (STF), para que possam ser marcados encontros com o objetivo de diminuir a instabilidade política.
“O objetivo é demonstrar a importância de o Brasil ter um ambiente de paz, de serenidade onde possamos garantir a forma de valorização da democracia, mas principalmente criar um ambiente de confiança que permita atração de investimentos, geração de empregos e renda”, disse o governador do Piauí, Wellington Dias (PT).
Para Ibaneis Rocha (MDB), governador do Distrito Federal, a intenção é “utilizar a força dos governadores que falam em nome da população […] e levar essa fala dos 27 governadores para todos os Poderes constituídos no país”.
Críticas
No entanto, o clima de união não foi suficiente para evitar críticas contra Bolsonaro. O governador Rui Costa (PT) classificou como “tragédia” os ataques e ameaças do presidente ao sistema democrático brasileiro.
“Além de ameaçar a democracia, como um modo de vida, ameaça e é uma tragédia para o emprego, para a renda, para os investimentos. É notória a repercussão desse comportamento do presidente nos investimentos externos do Brasil. O grande prejuízo que isso trouxe para a economia dos estados. Isso sem falar na postura autoritária de perseguir os estados e jogar no colo dos governadores os efeitos nefastos dessa política do governo federal”, criticou.
Paulo Câmara, governador de Pernambuco, afirmou que as instituições têm sido agredidas diariamente, o que é preocupante.
“Nós vamos olhar a história dos últimos dois anos e tem discussões sobre cloroquina, voto impresso, agora esses ataques frontais ao Supremo Tribunal Federal e a seus membros. Ataques, na verdade, à democracia”, disse Câmara.
Aumento do combustível
Os governadores também reagiram às declarações de Bolsonaro, que atribuiu a responsabilidade sobre o aumento do valor do combustível aos representantes dos estados.
Rui Costa afirmou que o presidente tem uma “postura autoritária de perseguir os estados” e que ele “joga no colo e na conta dos governadores” os efeitos “nefastos” da política econômica.
“Tanto é que tudo passa a ser responsabilidade dos governadores. Se a gasolina está a R$ 7 hoje, a versão do grupo que segue o presidente da República é que os responsáveis por isso são os governadores. Difunde uma máquina de comunicação gigantesca que os governadores aumentaram o ICMS”, afirmou o governador.
Ibaneis Rocha afirmou que é uma “falácia” a avaliação de que os estados estariam aumentando o ICMS cobrado sobre os combustíveis.
“Houve nove aumentos de combustíveis nesse ano, e também por causa da instabilidade política que faz o dólar chegar a R$ 6, que puxa o aumento de combustíveis. Precisamos criar ambiente de harmonia, tranquilidade. Se o dólar cai, o combustível certamente vai cair. Não tem nenhum governador que tem aumentado o ICMS dos combustíveis. Isso é uma falácia grande, tentando culpar os governadores a culpa pelos 9 aumentos dos combustíveis”, declarou.
A reunião do Fórum dos Governadores já estava prevista, mas de última hora teve incluída na pauta a possibilidade de uma ruptura institucional. O assunto veio à tona nos últimos dias após a série de ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Fonte: A Tarde